Media Lab Talk trata da criação dos efeitos visuais da TV Globo

Nesta quarta-feira (22), a supervisora executiva de efeitos visuais dos estúdios Globo, Lucia Modesto, participou do Media Lab Talk. A palestra, via Youtube, trouxe uma ampla visão da área, desde a parte técnica até recomendações para entrar no mercado de trabalho. “Efeitos visuais no Entretenimento da TV Globo” resgatou também o histórico da emissora.

Lucia ressaltou que na década de 80 a Globo “foi a primeira televisão no mundo a trabalhar com computação gráfica no ar”, com uma vinheta desenvolvida por estudantes de Computação Gráfica do New York Institute of Technology. Depois disso, os efeitos visuais chegaram também à dramaturgia. Na novela “Fera Ferida” (1993) o objetivo era apagar os cabos que faziam a atriz Claudia Ohana flutuar. Mesmo com a simplicidade de técnicas, a intervenção foi um marco para à época.

Responsável pelo setor de efeitos 3D no entretenimento, com foco em novelas e séries, a supervisora executiva começou a trabalhar na Globo quando a logomarca ainda era pintada. Seu primeiro trabalho foi a abertura do Supercine. Também fez a animação dos Jogos Olímpicos de 1992. Trabalhou 18 anos na DreamWorks, onde foi rigger, quem “deixa o personagem pronto para entregar ao animador, e o animador vai fazer o personagem atuar”, diz. Nesse período, acompanhou de perto o desenvolvimento das tecnologias hoje utilizadas e trabalhou em filmes como “Formiguinhaz”, “Como treinar seu dragão”, “Megamente” e nas séries de filmes de “Madagascar” e “Shrek”, primeiro filme a ganhar Oscar de melhor animação.

Cena da novela Fera Ferida (1993), da Rede Globo

Quando a DreamWorks decidiu fechar o estúdio de São Francisco, Lucia voltou para a Globo. Agora, as técnicas de efeitos visuais, também conhecidas como VFX, são aplicadas frequentemente para situações mais simples do que se imagina. “Grande parte do que a gente faz é correção”, diz a supervisora, citando o exemplo de apagar reflexos da equipe de gravação nos espelhos.

Neste ano, as áreas de produção gráfica foram concentradas no Globo Design Center, englobando VFX de entretenimento e as áreas de arte de jornalismo, esporte e comunicação, responsável pela marca Globo. Repetindo a máxima de que efeito visual bom é aquele que você não vê, ela explica que VFX são os processos aplicados a qualquer imagem gravada para alterá-la de modo a poder contar uma história. As técnicas são utilizadas para preencher ambiente, criar efeitos atmosféricos, personagens e acidentes, além de corrigir os erros de gravação. “Tudo que você vê no ar de entretenimento passa pela nossa sala. Não há programa sem efeito”, afirma. O setor de VFX é dividido em três: 3D, do qual Lucia é supervisora, matte painting, que é a parte de ilustração, e composição, responsável pela finalização e trabalho com chromakey.

O processo de trabalho na área parte da conceituação, passa por criação e animação e termina com a imagem final. O tempo de duração desse processo depende de quão complexo é o projeto. Foram sete meses para desenvolver a plataforma de petróleo da série “Ilha de Ferro”, por exemplo. Outros trabalhos recentes nos quais Lucia esteve envolvida são as novelas “Êta Mundo Bom!”, “Deus Salve o Rei” e “O Sétimo Guardião”. A novela “Amor de Mãe” também entra na lista.

 

Sobre novas tecnologias e mercado de trabalho

 

Em resposta à onda dos chamados live action, Lucia brinca que é heresia e prefere a animação tradicional. “Só porque parece de verdade não é live action”. Ela comenta que as releituras de desenhos animados famosos funcionam por causa da boa história, já conhecida, não pelas mudanças na tecnologia. “O importante é contar a história”.

Sobre as possibilidades futuras, a Inteligência Artificial (IA) é vista como auxílio, não como substituta do animador. Até os deep fakes são exemplos técnicos do uso de machine learning. “As produções não têm paciência nem dinheiro para pagar coisas muito lentas hoje em dia”. Campo de muita especialização, na área de efeitos visuais é difícil ser bom em tudo. Apesar disso, Lucia enfatiza que o mercado brasileiro é mais generalista. “É interessante dar uma olhada em tudo e descobrir o que você realmente quer fazer”. Isso acontece porque as equipes são menores, diferente dos grandes estúdios estrangeiros.

Em termos de portfólio, a profissional recomenda modelar produtos em vez de personagens, porque não há muito mercado no Brasil para desenvolvimento de personagens, e, em outros países, costumam contratar pessoas mais experientes para essa área. Outra dica é buscar diferencial. Para quem gosta de rigging, por exemplo, o ideal é treinar movimentar desenhos humanos nos ombros e quadris, além de movimentos grandes. É importante priorizar seus melhores trabalhos e manter o portfólio objetivo.

Aos que desejam investir desde já nessa carreira, ou têm curiosidade sobre o assunto, Lucia recomenda o site da National Film Board, produtora pública do Canadá – , onde estagiou por 10 meses. Para quem quer praticar, ela sugere utilizar recursos gratuitos, como Blender e Unreal, que são boas ferramentas para começar o portfólio. Reforça, também, que buscar conhecimento além do que já é ensinado em sala de aula é fundamental.

 

Julia Barroso, 6º período

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