Palestra sobre fotografia nas comunidades encerra SECOM Conecta 2020

“Diário de um fotógrafo no Complexo do Alemão em tempos de pandemia”, com Bruno Itan, encerrou a Secom Conecta 2020 na tarde da última quarta (28). Com quase duas horas de duração, a palestra trouxe a trajetória do fotógrafo e uma abordagem positiva ao retratar as favelas da cidade. Nascido em Recife, Bruno veio com a mãe e a irmã para o Rio de Janeiro aos dez anos, e desde então mora no Complexo do Alemão. Buscando oportunidades, a família saiu de um cenário de fome para uma realidade de violência. O fotógrafo disse que vivia na “bolha da favela”, sem perspectiva de futuro.

Inicialmente, tirava fotos de carros, poças e janelas num celular antigo e postava no Orkut. Deu o primeiro passo da carreira ao trabalhar como fotógrafo numa festa em troca de R$ 50 e um balde de cerveja. Em 2008, com a construção do teleférico do Alemão, foi criado um curso gratuito de fotografia e Bruno teve acesso a câmeras profissionais. Depois de quatro meses de curso, trabalhou num lava a jato para comprar sua câmera.

As fotos de Bruno foram levadas ao governo do estado e assim conseguiu patrocínio público para sua primeira exposição, que aconteceu no dia da inauguração do teleférico. A então presidente Dilma Rousseff foi com Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro à época, conhecer a exibição. A consequência disso foi uma oportunidade de emprego para Bruno, que trabalhou até o mandato de Luiz Fernando Pezão como um dos fotógrafos oficiais do governo. Além disso, participou de alguns quadros do Caldeirão do Huck.

Foto de Bruno Itan

Dani Borges, professor no curso de fotografia, fez o convite para formar um fotoclube, com o objetivo de ajudar mais pessoas. O Foto Clube Alemão reuniu pessoas de outras favelas, e até de outras cidades, para fotografar as comunidades. Depois disso, foi criado o projeto Olhar Complexo, um curso de fotografia para crianças e adultos no Complexo do Alemão, em parceria com o Centro de Referência da Juventude (CRJ).

No período da quarentena, conversou com crianças e idosos, enquanto fotografava, para conscientizar sobre a importância do uso de máscara e do isolamento social. Muitas pessoas estão sem fonte de renda e não têm como se proteger. Nessa realidade, ele acredita no poder da fotografia em mudar a vida das pessoas, seja como carreira ou caminho para uma nova visão da sociedade sobre a favela. “Por anos e anos a gente não tinha voz”, ele diz, e conta que quer mostrar as coisas boas da vida no morro, indo na contramão da grande imprensa, que só agora dá visibilidade ao lado positivo das comunidades.

Para muitas pessoas, o tráfico chegou primeiro que a cultura, a arte e o poder público, afirma Bruno. Além de falar da necessidade da prática para uma boa fotografia, ele afirma ser importante sentimento na hora do clique, para que as fotos produzam emoção e lembranças. Isto faz toda a diferença em fotos de comunidades. “A gente não é bem visto na sociedade, então eu uso minha ferramenta para mostrar o potencial que nós temos”, disse.

 

Julia Barroso, 6º período

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