Professor da UVA conta como lida com homofobia em sala de aula

Eduardo Bianchi afirma que o debate sobre diversidade é fundamental

 

Junho é marcado como o mês do Orgulho LGBT+. Isto se deve à resistência de homosexuais no bar gay Stonewall Inn, em Nova York, em 1969. Frequentadores enfrentaram violências policiais com a comunidade e permaneceram no local durante dias em sinal de protesto. Eles receberam apoio de outros gays e lésbicas da cidade. A partir daí, no dia 28 de junho comemora-se a libertação LGBT+. A data é sempre lembrada com eventos ao redor do mundo. 

Mas quando se é homosexual, todos os dias são um desafio. O professor dos cursos de Publicidade e Propaganda e de Jornalismo da Universidade Veiga de Almeida, Eduardo Bianchi, falou com a Agecom sobre o trabalho dele em sala de aula. “Vivemos numa sociedade muito normativa, na qual eu tenho alunos de origem, perspectivas e imaginários sociais diferentes. Isto conduz a visões de mundo e à forma como os alunos veem a realidade, podendo causar um estranhamento”. Apesar de não ter recebido nenhum ataque direto de homofobia em suas turmas, teve um caso específico em que o aluno assistia às aulas de costas para o professor. “Nossas conversas durante o curso mudou o aluno, e hoje ele é um grande querido”, disse.

O motivo do comportamento estranho nunca foi falado pelo aluno. O caso aconteceu no primeiro período. O estudante, que tinha boas notas, não conseguia olhar para Bianchi. “Minha presença na sala de aula o incomodava muito. Foi um desafio pra mim manter o controle e a calma, porque eu sabia que era uma reação homofóbica”. Foi preciso trabalhar pautas sobre diversidade e gerar discussões entre os colegas de classe. “Hoje, ele é super participativo nas aulas, sempre puxa assunto nas redes sociais. Isso deixou de ser uma questão para ele, que se tornou até um ponto de referência”. 

Essas pautas já faziam parte das aulas de Bianchi. Por serem disciplinas teóricas, altamente reflexivas sobre temas caros à sociedade, o professor aborda as construções das identidades e processos de identificação, trabalhando com autores brasileiros e internacionais que tratam das questões de gênero. “Buscar a ideia da diversidade é uma forma dos alunos entenderem como as construções sociais se dão, como a sociedade vem reproduzindo narrativas históricas”. Assim, gerando debates nas aulas, principalmente entre os alunos LGBT+. “Eu trago a teoria e eles trazem as experiências da própria vida”.

Mesmo sabendo dos desafios, Bianchi não se arrepende. Ele decidiu ser professor enquanto fazia iniciação científica na universidade. Seu orientador, que também era gay, foi uma inspiração para a vida profissional. “Eu via nele a clareza e a força de quem ele era. Em vários momentos da minha escolha profissional e formação ele foi um exemplo para mim”. Pensando no seu próprio papel como professor, Bianchi espera que os alunos possam buscar nele algum tipo de representatividade. ‘’Eu sempre tenho isso muito forte em mim toda vez que eu entro em sala de aula. Quando se trata de turma nova, que não me conhece, eu imagino que a minha presença possa causar incômodo, mas também pode ser um apoio para outros alunos”. 

 

Luiza Almeida, 6° período

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