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Uma experiência inesquecível na Rússia

Foram os trinta dias mais intensos da minha vida. Acompanhada de doze amigos, eu, assim como alguns deles, tivemos a oportunidade de pisar na Europa pela primeira vez em nossas vidas. E estar na Rússia, especificamente na Copa do Mundo, tornou essa experiência ainda mais impactante. Antes de ir para lá, eu tinha uma limitada expectativa; porém, a realidade me surpreendeu sobremaneira. A Rússia é um país incrível e eu escolhi algumas palavras para descrevê-la, em vista de tudo o que presenciei. São estas: hospitalidade, ordem e riqueza.

Hospitalidade

​Uma das coisas que eu mais ouvi antes de chegar lá foi que os russos são pessoas sérias e muito fechadas. Em parte, sim. Ao contrário do brasileiro, eles não sorriem para qualquer pessoa, nem são festeiros como nós. A arte do silêncio é algo que eles desempenham perfeitamente. Porém, tudo muda com a presença de um brasileiro. Eles são imensamente apaixonados pelo Brasil.
​Assim que aterrissamos em Moscou, ainda não estávamos vestidos com a roupa do Brasil. Mas os olhares para mim já eram frequentes, especificamente por ser negra e ter cabelo crespo. Isso é algo raro no meio deles. Eu nunca me senti tanto o centro das atenções como na Rússia, mesmo que já tivesse vivido uma situação semelhante na Índia.
Eu e meus amigos estávamos ali não apenas para aproveitar o evento esportivo, mas também para demonstrar o amor de Deus a essa nação com atos de bondade. E o carinho que recebemos desse povo foi algo indescritível. Rostov do Don, a primeira cidade em que nos hospedamos, pelo que muitos moradores me disseram, não estava acostumada a receber turistas antes da Copa. E, por sermos brasileiros, a alegria que sentiram por estarmos ali, conhecendo a cidade deles, foi algo muito tangível. Eles faziam perguntas como: “O que você está achando de Rostov?”, “Quais lugares você mais gostou?”, “Até quando pretende ficar aqui?”, “Me dá o seu contato?”, entre muitas outras.
Saíamos todos os dias em grupo, vestindo a camisa do Brasil e víamos o trânsito parar por nossa causa, com buzinadas infindáveis de saudação. Ao chegarmos num ponto de ônibus, muitos motoristas paravam seu trajeto e desciam de seus veículos só para tirar uma foto conosco. “Fota, plis” e “Brasilia Champion” foram as frases que mais ouvi diariamente nas ruas. Certa vez, uma mulher no ponto de ônibus decidiu pagar a passagem de todo o nosso grupo, mesmo sem nos conhecer.
Ainda em Rostov, costumávamos pegar dois ônibus antes de irmos para casa, sendo que o último parava de passar às dez horas da noite. Um dia, porém, nós nos atrasamos e ainda estávamos no primeiro ônibus, quando já passava desse horário. Quando o motorista do ônibus em que estávamos ficou sabendo disso, fez questão de nos deixar próximo de casa, só esperando que todos os demais descessem para sair da sua rota normal. Se isso não acontecesse, pagaríamos caro com o valor dos taxis.
Em muitos lugares, especialmente onde fazíamos masterclass de futebol com crianças e adolescentes, éramos recebidos com muita honra. Em uma das cidades, chamada Bataysk, fomos oficialmente recebidos pela prefeitura como pessoas de autoridade política, contando até com a presença de jornalistas. Fizeram apresentações artísticas com danças tradicionais e nos ofereceram um banquete com todas as comidas típicas da Rússia, dando-nos a honra de plantar uma árvore ali, o que é uma tradição para com a chegada de estrangeiros.
Assim também em Moscou, o carinho do povo para conosco não mudou. Estivemos alguns dias na Praça Vermelha, cantando publicamente, e multidões de pessoas pararam para nos ouvir e tirar fotos conosco. Isso atraiu não somente cidadãos comuns, como também jornalistas de emissoras de TV relevantes, de nacionalidades russa e brasileira. Sequencialmente, fomos vistos em canais como a Rede Record, SBT, ESPN e também em alguns sites oficiais da Copa pelas redes sociais. Nisso, percebemos que o simples fato de vestirmos a camisa do Brasil abriu muitas portas para que abençoássemos ainda mais pessoas ali.
Em geral, os russos nos trataram como verdadeiros hóspedes de honra. Muitas pessoas nos paravam na rua para nos entregar presentes, como flores, doces, acessórios, e nos deixavam entrar nos transportes públicos sem pagar. Em nenhum momento sofremos algum tipo de preconceito ou fomos, de alguma maneira, explorados.

Ordem

​Os russos são imensamente cuidadosos e organizados. Isso chamou a minha atenção para a realidade que vejo no Brasil, que é muito divergente, até nos mínimos detalhes. Nas escadas rolantes, eles não se espalham fechando o caminho; pelo contrário, ficam do lado direito, deixando um espaço livre a quem quer passar ou que esteja com pressa.
​Eles também são muito pontuais. Tudo tem hora marcada para acontecer, e dificilmente atrasa. Os ônibus não passam aleatoriamente, mas possuem um intervalo cronometrado. Eu demorei para perceber que era a única no ponto de ônibus que estendia a mão para dar sinal, sendo que isso não era necessário, pois o transporte automaticamente parava para receber os passageiros daquele horário.
​Isso é interessante, porque dificilmente eu via os transportes públicos lotados, fossem ônibus ou metrô. Se no Brasil o metrô tem um intervalo variado de 3 a 5 minutos para passar nas estações, na Rússia esse intervalo é de apenas 1 minuto. Então, se eu perdia um, não precisava me preocupar, porque logo em seguida vinha mais um.
​Em outro aspecto, a Rússia também se destaca na questão da limpeza. Eu não me lembro de ter visto lixo na rua. Se vi, passou desapercebido, porque no lugar onde moro é muito comum ver sujeira em todo lugar. Lá é o avesso. Eles prezam muito pela preservação ambiental, com a presença demasiada de árvores em toda parte. A única observação indesejada é a do número grandioso de fumantes, que estão em toda parte, sejam adolescentes, jovens, adultos ou idosos. O fumo é muito incentivado. E, se alguém não é um fumante ativo, acaba se tornando passivo. Nessa questão, em específico, eu prestigio o meu país.

Riqueza

​A Rússia é rica. E isso não é uma hipérbole. Em cada detalhe, ela expressa grandiosidade. Ao andar pelas ruas, principalmente no centro das cidades, eu vi prédios e mais prédios imensos com estruturas monumentais proeminentes e perfeitamente elaboradas. As igrejas ortodoxas, maioritárias no país, também ganham muito destaque pelo seu designer único.
​As estações de trem e de metrô não são apenas estações, mas são lugares que lembram perfeitamente museus. Alguns com pinturas clássicas, outros com estátuas de mármore, remetendo a momentos históricos da nação. Por exemplo, os soldados da guerra. Nisso eu pude ver o orgulho nacional que eles possuem. Não pela riqueza em si, mas pela valorização da história.
​​Diante de tudo isso, eu reconheço que é grande a diferença entre Rússia e Brasil. Eles amam sopa, nós amamos arroz com feijão; eles amam chá, nós amamos café; eles amam legumes, nós amamos pão com manteiga. Não temos a mesma cultura, nem os mesmos costumes; mesmo assim, eles se simpatizam muito conosco.
​Brasil ganhando ou perdendo não me fez perder a minha alegria em estar com eles, e vice-versa. Os russos sempre veem os brasileiros como campeões, e nos estimam muito. Essa experiência na Rússia pode ser resumida com uma única palavra: gratidão, a Deus e a toda nação russa, que abriu os braços para nos receber com todo o amor e carinho do mundo.

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Débora Senra, aluna do 6° período de Jornalismo, Universidade Veiga de Almeida